Para muitos, a gordura localizada, sobretudo na região abdominal, é incómoda. Por esse motivo, há uma grande procura nas redes sociais por receitas e técnicas milagrosas, para acabar com ela.

No TikTok circulam vários vídeos sobre automassagens que supostamente são eficazes na eliminação de gordura localizada. Um dos posts publicados intitula-se “como perder barriga em 2 minutos com massagem feita em casa”. Mas será que uma simples massagem é suficiente para eliminar gordura localizada?

Fazer uma automassagem elimina gordura localizada? 

Em declarações ao Viral, Lèlita Santos, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), Diretora do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), adianta que não há “estudos científicos ou ensaios que permitam avaliar se as massagens são técnicas eficazes para reduzir ou eliminar a gordura abdominal ou subcutânea”. 

Alguns estudos reportam apenas benefícios associados a massagens abdominais em contexto de doenças e sintomas gastrointestinais, e dores menstruais (ver aqui, aqui e aqui).

“A massagem violenta, como a demonstrada, poderá fazer hiperémia local por estimulação da circulação, mas não me parece benéfica”, aponta a especialista.

Por outras palavras, explica, esta massagem “pode provocar vasodilatação local e mais aporte temporário de sangue ao sítio, com um efeito de reação inflamatória (calor, rubor e desconforto local), enquanto dura a massagem”, clarifica.

No entanto, mais uma vez, não há nada que comprove o seu “efeito no tecido gordo e no conjunto dos adipócitos”, reforça.

Que medidas são eficazes na perda de gordura?

Em declarações anteriores ao Viral, os nutricionistas António Pedro Mendes e Carlos Portugal Nunes explicavam que não é possível perder gordura localizada através de alimentos, bebidas ou outras estratégias (excluindo as técnicas cirúrgicas).

Aliás, a perda de gordura ocorre de uma forma generalizada e não localizada, estando “essencialmente dependente do controlo hormonal e não da estratégia utilizada”, salientava Carlos Portugal Nunes.

No mesmo sentido, Lèlita Santos também refere que não se pode “escolher” o sítio do corpo em que se perde gordura, notando que “o fenótipo corporal” (o aspeto físico) tem “um componente genético”, ou seja, pode ser “herdado”.

Qual é, então, a melhor forma de perder gordura? Segundo a presidente da SPMI, a melhor estratégia é a “adoção de um estilo de vida saudável”, isto é, “uma dieta equilibrada e adaptada à atividade de cada indivíduo, atividade física também adaptada a cada um” e o controlo do “stress”. 

Se a pessoa for “obesa” ou “tiver outras patologias”, deve haver uma especial atenção e vigia “do ponto de vista clínico”, alerta a médica.

Implementando estas medidas, com especial enfoque na “diminuição da ingestão de gorduras saturadas”, verifica-se, então, “a redução da gordura corporal e o aumento da massa muscular e do metabolismo basal”.

Para mais, frisa a especialista, “também há a redução da gordura no fígado e da gordura visceral, que não se vê, mas é muito prejudicial em termos de risco cardio-cerebro-vascular”. 

Por que razão se deve preferir o estilo de vida saudável à cirurgia?

De facto, admite Lèlita Santos, “a cirurgia pode ser um método” a seguir, havendo “técnicas não invasivas com resultados – embora modestos – e com riscos inerentes, como qualquer cirurgia”.

Contudo, em casos de obesidade, “se a cirurgia não for acompanhada de dieta e exercício, o insucesso a médio prazo é total”, frisa. 

A verdade é que “com dieta e exercício físico há perda de gordura subcutânea e visceral”, bem como “reforço muscular e aumento da força”, proporcionando uma “melhoria de vários metabolismos, nomeadamente glucídico e lipídico”.

Na visão da médica, “estes benefícios sobrepõem-se aos estéticos”, pois asseguram, acima de tudo, “uma melhor saúde”.